Censo IBGE: recenseadores relatam dificuldades ao fazer pesquisa e denunciam até agressões verbais

Agentes têm se queixado de dificuldades enfrentadas na rotina da pesquisa, como hostilidade dos brasileiros, falta de segurança e de apoio do órgão, e também de atraso no pagamentos

16/09/2022 as 07:57
Essencial para o planejamento de políticas públicas no país, o Censo 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem sofrido uma série de baixas desde o início das visitas às residências, no dia 1º de agosto.

Já são pelo menos 6.550 casos de recenseadores que, frente às más condições de trabalho e atrasos nos pagamentos, acabaram desistindo de participar da pesquisa e abandonaram suas funções, de acordo com informações do próprio órgão.

Na semana passada, O GLOBO mostrou que têm se multiplicado as queixas, sobretudo de insegurança, destes profissionais. São relatos de descaso, hostilidade, desconfiança e violência em vários endereços brasileiros visitados, além de reclamações sobre falta de suporte do instituto na rotina pesada dos agentes.

O IBGE minimiza as perdas. Procurado, o Instituto afirmou que o número de baixas representa menos de 5% do total de recenseadores em atividade, e que trata-se, portanto, de uma rotatividade esperada, "num contingente de mais de 150 mil recenseadores".

— Eu fiquei muito espantada, de verdade, em ver como as pessoas perderam o respeito e a empatia — contou, na semana passada ao GLOBO, a estudante de jornalismo Bruna Mecchi, de 22 anos, ex-recenseadora, que disse ter pedido desligamento do Censo.

— Até há pessoas que nos recebem bem, que respondem ao questionário com entusiasmo, mas há também aqueles ignorantes e mal-educados. Já bateram a porta na minha cara, já gritaram comigo me chamando de golpista. Alguns colegas recenseadores foram recebidos com vassourada, baldes de água. Além de roubo de DMC (Dispositivo Móvel de Coleta, o celular adaptado usado pelos agentes), assédio, dificuldade de acesso em alguns setores como favela, enfim... é um trabalho extremamente perigoso e desvalorizado.

O IBGE definiu as dificuldades como rotineiras nos censos e nas pesquisas amostrais, assim como nas pesquisas domiciliares de outras instituições, e afirmou que a tendência é que “sejam vencidas” até o fim do trabalho de campo do Censo.

Uma recenseadora do Censo Demográfico do Instituto brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 34 anos, levou uma cuspida e foi chamada de nojenta por uma mulher em Ipatinga, no Vale do Aço, enquanto fazia seu trabalho. Vários recenseadores do Censo relatam agressões e ameças durante seus trabalhos por todo Brasil. 
 
A vítima contou para a polícia que a suspeita estava na janela do apartamento, quando a funcionária do IBGE a perguntou se ela gostaria de fornecer alguns dados para a pesquisa. A mulher disse que não e chamou a funcionária de nojenta e depois cuspiu nela. 
 
A suspeita relatou à polícia que realmente estava na janela do seu apartamento quando a recenseadora chegou e perguntou se ela poderia participar da pesquisa e a resposta foi negativa. A mulher disse que a funcionária disse que ela não precisava ser grosseira. Ela disse também que saiu da janela, mas depois voltou e cuspiu em direção à vítima. 
 
A suspeita foi presa por desacato e assumiu o compromisso de comparecer em juíza para assinar um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO).

Pagamentos atrasados

Mas, além das portas fechadas, dos xingamentos e até um caso de racismo denunciado em Belo Horizonte (MG), muitos recenseadores desistiram depois de atraso nos pagamentos nos últimos dias. As reclamações proliferam nas redes sociais do IBGE, e o órgão precisou se posicionar.

"O IBGE reconhece e pede desculpas pela demora na liberação do pagamento do trabalho de coleta dos recenseadores. O Instituto informa que está comprometido em reduzir esses prazos", informou o órgão em comunicado publicado na última terça-feira (23).

Censo 2022: O que o IBGE pergunta na casa dos brasileiros?

"O IBGE demonstra o compromisso de honrar as suas obrigações em remunerar aqueles que vêm trabalhando na operação censitária. Todos sabemos que realizar um recenseamento em cerca de 75 milhões de domicílios distribuídos em 5.570 municípios não é tarefa fácil", diz outro trecho.

Questionado nesta quinta-feira, o IBGE afirmou ao GLOBO que os pagamentos foram normalizados nesta semana em mais de 90% dos casos, reconhecendo que ainda há valores atrasados.


fontes: oglobo.globo.com e otempo.com